Por Isabelle Meunier (Engenheira Florestal e Professora do Departamento de Ciências Florestais da UFRPE)
Em pleno mês de Abril, início das chuvas, Recife ferve a mais de 30ºC. Se esse calor já é efeito das mudanças climáticas globais, não sabemos. Mas é certo que a nossa dendrofobia tem contribuído, e muito, para vivermos em uma cidade de clima escaldante. Do grego dendron (árvore), essa doença social alastra-se rapidamente e tem efeitos colaterais devastadores.
Apesar de tantos serviços ambientais, paisagísticos e socioculturais, uma fobia coletiva e inexplicável ameaça esses espaços. Hoje, evitam-se árvores porque elas são grandes. Vivemos em prédios de 40 andares, confiando cegamente nos cálculos estruturais que foram feitos para sustentá-los, mas tememos árvores altas, pois elas podem cair (!). Diante de um telhado sujo ou de uma calha entupida, a solução não é mais, como antes, limpá-los – mas cortar todas as árvores que contribuíram com suas folhas para essa situação. A boa e velha vassoura foi substituída pela motosserra porque, afinal, revestimentos cerâmicos e pisos intertravados não devem ser maculados pela folhas e flores de árvores.
Vivemos em uma sociedade que não encontrou uma solução segura e eficiente para os resíduos que gera , mas que não tolera folhas no chão (embora tole re a presença de crianças intoxicadas por cola nos sinais de trânsito!). Somos prisioneiros da violência urbana (humana, antes de tudo), e nos vingamos nas árvores, responsabilizando -as pelos nossos temores (árvores abrigam ladrões, na opinião de uma moradora de Boa Viagem, ao solicitar a remoção de uma castanhola da sua calçada!). Projetamos espaços nos quais a maior atração é o concreto, revestindo o solo e erguendo estranhas formas que agridem o bom gosto e a paisagem, por trás das quais poucas árvores se esgueiram, e chamamos isso de parque.
Se eu fosse médica, tentaria a celebridade caracterizando essa doença que se agrava de forma fatal. Como cidadã, espero que algum um psiquiatra social se debruce sobre a dendrofobia e busque entender suas razões e, urgentemente, encontre uma cura. Pois sem isso, nossa vida em um grande centro urbano, sem árvores, sem jardins e sem parques, será algo realmente infernal.
Extraído de http://bioterra.blogspot.com/
2 comentários:
O problema é que esse mal se alastrou para fora dos grandes centros urbanos e hoje existe em cidades pequenas e nesta pequena ilha. aqui, muitas vezes os serviços públicos chamam "educar" as árvores a podas que descaracterizam o seu porte e quase as transformam em arbustos... quando eles próprios não as cortam por fazerem sombra aos carros e sujarem os tejadilhos destes. Mesmo vivendo no campo e cercado de floresta de folha perene, este aglomerado urbano quase não tem árvores e a maior (auracária) resistiu mas lutei para sobreviver.
Verdade caro colega, em Manaus tornou-se habito impermeabilizar os terrenos com concreto.
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