Com o período de chuvas em Manaus, cresce a preocupação daqueles que moram em áreas consideradas de risco. Veja como vivem estas famílias, e as dificuldades enfrentadas.
Manaus - Com a notícia das centenas de mortes no Rio de Janeiro, provocadas por deslizamentos de terra, e com a tradicional chegada do período de chuvas na região amazônica, moradores de Manaus que vivem em áreas classificadas pelas autoridades como sendo de risco temem novos acidentes. Após a divulgação do lançamento de uma ação contra as erosões na cidade, feita pela Secretaria de Estado da Infraestrutura (Seinf), o Portal D24am esteve em alguns desses locais para mostrar a situação dos moradores.
Boa parte deles reconhece o risco de local onde mora, mas, por outro lado, eles argumentam que não têm alternativas. É o caso da dona de casa Anúbia dos Santos, de 29 anos, que veio de Parintins. Morando há nove anos em uma pequena casa de madeira, situada à beira de um barranco na comunidade do Riacho Doce 3, no bairro da Cidade Nova (zona Norte), ela diz que já passou por situações de medo no período chuvoso. Ela conta que, aproximadamente há um ano, por volta de 7h da manhã, a cozinha da residência cedeu junto com o solo, que não resistiu à chuva e deslizou.
“Meu marido havia acabado de levantar e veio para a cozinha. Ele ouviu um barulho e olhou pela janela. Foi quando ele viu a terra inteira descendo. Só houve tempo de ele correr. Graças a Deus que não perdemos ninguém, só alguns móveis”, conta. Mãe de seis filhos, ela teme novos deslizamentos, mas afirma que não tem condições financeiras de mudar de local. “Estamos lutando para ir morar em outro lugar, mas ainda não temos condições”, diz. A dona de casa conta que ficou feliz com o lançamento do programa ‘Minha casa, minha vida’, do Governo Federal, mas a decepção veio tão rápido como a notícia.
Minha casa, meu medo
“Eu cheguei a procurar o programa, mas fui informada que ele era só para as pessoas que vivem de aluguel. Eu expliquei minha situação, que morava em área de risco, mas não teve jeito. Aí eu desisti”, diz. Corretores consultados pelo Portal D24am dizem que o caso da dona de casa pode ter sido barrado pela Caixa Econômica Federal pelo fato de ela não ter renda fixa, e não por morar em área de risco.
Enquanto o marido de Anúbia vive de pequenos bicos nos intervalos em que não está trabalhando como pedreiro, a dona de casa cuida dos filhos. “Às vezes eu tenho que sair para resolver alguma coisa, mas quando o tempo fecha, eu cancelo todos os meus compromissos. Prefiro ficar em casa com meus filhos. Por mim, eu posso perder tudo, menos a minha vida e dos meus filhos”, diz.
A atual rotina de Anúbia dos Santos, assim como a do marido, é fazer vigília durante à noite, quando chove. “Não dormimos mais direito, ainda mais com essas notícias da tragédia no Rio de Janeiro. Ficamos mais assustados. Quando chove à noite, ficamos acordados com medo. Meus filhos vivem me perguntando se um dia vamos ter uma casa que não caia com a chuva”, conta.
Um barranco acima da casa de Anúbia dos Santos vive o feirante José Neuton Severino, de 34 anos. Pai de seis filhos, ele se revolta quando ouve, geralmente por parte de agentes da Defesa Civil, que mora ali “porque quer”. “Não vivemos aqui porque queremos. Gostaria que essas pessoas que dizem isso se colocassem em nosso lugar. Eu não tenho condições financeiras de comprar uma casa, nem de alugar”, explica. Ele diz que teme que sua casa caia com a chuva.
“Já vi vários vizinhos perderem tudo, seus móveis, sua paz. E sempre que a Defesa Civil vem aqui, nos dizem que vivemos aqui porque queremos. Não adianta vir aqui para nos entristecer mais. Eu queria que viesse algum assistente social ver a nossa situação”. José diz ainda que o local recebe muitas visitas de políticos, no período de eleição. “Na época de eleição, eles sempre vêm aqui. Nunca prometem nada, só pedem o nosso voto mesmo”, conta o feirante.
Nos dois casos, da dona de cada e do feirante, a chegada ao local aconteceu da mesma forma: ocupação irregular. Quando souberam que havia uma área “disponível”, foram ao local e ocuparam os lotes que ainda não haviam sido marcados por outros ocupantes. “Nós só conseguimos um espaço já na parte de cima, pois os de baixo estavam todos marcados”, conta Anúbia.
Por muito pouco
Quem também não chegou a perde tudo mas testemunhou o desespero de vizinhos foi a costureira Valma Maria Bezerra de Morares, de 47 anos. Hoje vivendo em uma casa distante das áreas de risco, na comunidade de Nossa Senhora de Fátima II, na última divisa com o bairro da Cidade Nova (Zona Leste/Norte), ela conta que em 1996, em uma chuva que durou três dias, ela acordou com barulhos e estalos que vinham da casa vizinha.
“Ouvimos barulhos e saímos para ver. Era a casa de um vizinho nosso, que estava caindo por causa de um deslizamento de terra. Nós ajudamos ele a retirar as coisas, mas a casa caiu inteira. Graças a Deus que ninguém se feriu”, diz.
Foi após a situação que sua antiga casa – perto de onde vive hoje, porém longe dos barrancos – foi colocada entre as ameaçadas pela Defesa Civil. “Eu cheguei a passar dois meses fora de casa, morando com parentes.
Depois eles voltaram e fizeram uma avaliação, dizendo que minha casa não corria mais riscos. Mas eu a vendi e vim para outro lugar”, conta. Hoje, a antiga casa do vizinho que desapareceu em meio à terra, já foi erguida novamente. Apesar de ser informada que a área não corria mais riscos deslizamentos, a costureira Valma prefere morar onde está atualmente. “Disseram que não corre mais riscos, mas nunca se sabe”, pondera.
O precipício de Londres
Situação de grande medo vivem hoje os moradores da Rua Londres, no bairro Grande Vitória (zona Leste). No local, uma grande cratera de vários metros de profundidade se formou com as recentes chuvas, levando pelo menos duas casas. A dona de uma das residências que desapareceu com o incidente, Rutinei Mota dos Santos, de 50 anos, está morando de favor na casa de vizinhos. “Eu perdi tudo, mas ainda bem que não havia ninguém em casa na hora em que ela caiu. E hoje estou morando de favor. Espero que as autoridades possam olhar pelas pessoas nessa situação, porque não sou apenas eu”, diz.
Ela conta que quatro outras casas já caíram em deslizamentos de terra nas redondezas, desde o ano passado, e que não tem condições de ir para outro lugar “Eu tenho quatro netos, vivo com meus filhos e minha única fonte de renda é uma pensão de 200 reais. Quatro casas já caíram, mas até hoje nunca providenciaram nada para quem perdeu tudo. Será que estamos esquecidos? Acho que as autoridades têm que parar de vir aos locais de deslizamentos para fazer apenas fotos e fazer alguma coisa”, reclama.
Reportagem de Mário Bentes para o portal@d24am.com
19 Mar 2011.
________________________Primeiramente gostaria de parabenizar o Jornalista Mario Bentes pelo excelente texto, poucas vezes vi uma reportagem sobre areas de risco antes que tivesse havido o deslizamento, isso prova que o Bentes como tambem portal@d24am.com estao atentos para o que pode ocorrer nas areas que sofrem com esse problema, bem ao contrario do poder publico que apenas vai a essas areas para fixar uma placa numerada avisando que trata-se de uma area de risco ou entao quando a tragedia ocorre.
Em 1997 quando o Prof. Dr. Jose Duarte Alecrim apresentou no Simposio de Geologia da Amazonia um trabalho multidisciplinar sobre areas de risco geologico em Manaus a comunidade geologica banalizou a questao, nesse trabalho era citado que da forma como estava sendo realizada a expansao urbana da cidade em breve teriamos problemas geo-ambientais semelhantes ao Rio de Janeiro, Sao Paulo e Minas Gerais.
Esse trabalho pioneiro rendeu varios outros artigos, monografias e dissertacoes sobre a tematica sempre buscando mostrar que o principal agente acelerador da situacao de risco é o homem e sua forma inconsequente de ocupar o territorio.
No ultimo mes o problema ganhou repercussao nacional e internacional quando o prefeito dessa cidade ao visitar areas de risco geologico discutiu com uma moradora.
O que me chama atencao é que mesmo passado tantos anos desde o inicio dessa discussao em Manaus iniciada com os trabalhos de J. D. Alecrim uma coisa pouco mudou: a falta de acao preventiva por parte da Defesa Civil Municipal e Estadual, assim como o descaso das outras secretarias que nao conseguem agir conjuntamente visando evitar tragedias, quando isso ira mudar?
Estivemos dia 16 de marco de 2011 na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas eu e o Geografo Mauro Bechman participando de uma Sessao de Tempo solicitada pelo Dep. Tony Medeiros (Presidente da Comissao de Assuntos Municipais) para debater essa problematica, foi o passo inicial para discussoes mais aprofundadas naquela casa, onde em breve teremos uma Audiencia Publica solicitada pelo Dep. Luiz Castro visando reunir representantes das comunidades, pesquisadores, entidades publicas com o objetivo de mapear o problema e se tudo correr bem propor solucoes.
Vamos a luta companheiros, uma cidade que pretende sediar partidas da Copa do Mundo de futebol precisa estar preparada para atender situacoes de emergencia.
Saudacoes Geologicas
Professor Elias Santos Junior
Manaus - Amazonas - Brasil
Ao pesquisar noticias sobre areas de risco nos jornais de manaus percebemos que s
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